domingo, 26 de dezembro de 2010

A liberdade de amar


Creio no Mundo como num malmequer,  
Porque o vejo. Mas não penso nele 
Porque pensar é não compreender... 
O Mundo não se fez para pensarmos nele 
(Pensar é estar doente dos olhos) 
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... 
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... 
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, 
Mas porque a amo, e amo-a por isso, 
Porque quem ama nunca sabe o que ama 
Nem sabe porque ama, nem o que é amar... 
Amar é a eterna inocência,  
E a única inocência é não pensar... 
 (Alberto Caeiro)

Porque amar é sonhar, viajar, tocar, sorrir, ser livre e ao mesmo tempo suavemente preso, não ter idade, seguir ideais.

É estarmos de mãos dadas a ver o pôr-do-sol e mergulhar na paixão da noite!


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Liberdade de movimento



É Sábado. Chove. Ela dança. Não é a dança da chuva. É a dança com a chuva. Troveja. Um relâmpago. Ela dança. Está na hora. E ele chega. Sentem-se, cheiram-se. Estão prontos. No chão e em posição fetal ela sofre, desenrola o corpo morto pelo piso frio e fica de joelhos. Tomba para o lado esquerdo, caída levanta o peito em direcção ao céu como que possuída estivesse. Pára. Ele olha-a e não se move, não deixa a cadeira onde se sentou, só se dando ao trabalho de respirar. Ao som da chuva forte ela cai, rebola, levanta, corre, gira e pára. Pára apenas quando os clarões iluminam a sala. Pára como um espasmo e continua a correr em êxtase, puxa-o e entrega-se ofegante. Frente-a-frente a sua cabeça desiste contra o peito dele. Escuta-o. Sussurra - dança comigo... Ele nega. Ela empurra-o. Os seus braços perderam a graciosidade e expressam palavras agressivas pelo ar. O seu corpo acompanha aquele discurso odioso e com os joelhos flectidos ela roda, roda, roda até chegar ao chão. Foi derrotada. As pernas hirtas apontam para o céu, como se atraíssem um forte relâmpago que terminasse com aquele tormento. E continuam a subir até decaírem por entre a sua cabeça. Com o peso do mundo sobre os ombros ela desfaz numa cambalhota e fica imóvel.
Uma lágrima vadia escorre movimentando-se livremente pela face, escorregando até ao queixo, deixando o rasto húmido de uma vontade negada. Desliza até cair na madeira e ele aproxima-se silenciosamente. Levanta-a. Ela vira costas. Ele rodopia-a e eleva-a. Exibi-a pelo espaço vazio, ostentando uma relíquia, como se todas aquelas gotas de água não lhe pudessem tocar. Desafiando a gravidade ele vira-a no ar. Ela estende os braços e sorri, apreciando um tecto nunca antes visto. Suavemente o seu corpo desliza pelo dele, os seus pés já sentem as tábuas e o seu pescoço sente a respiração de um homem que já queria dançar. Juntos envolvem-se pelo espaço. Com o seu característico cou-de-pied ela pinta linhas coloridas pelo ar. Ele segue-a, deslizando pelo chão e rodando pelo ar. Os seus corpos parecem folhas secas a pairar com o vento. Não voam só por voar, voam na esperança de se voltarem a encontrar. Param. Ofegantes sorriem um para o outro e beijam-se em tom de despedida. Ele sai, deixando naquele ar que ainda dança um olhar nu e feliz. Ela sorri, sorri, vai sorrindo, o sorriso diminui, o sorriso desaparece. Ficou sozinha. As mãos acordam a cara, brincam com o cabelo, percorrem o corpo suado e chegam ao chão. Ela faz um freeze, como se assim congelasse aquele momento. Desmancha. Fica em posição fetal, perdida naquele palco grande demais, sujo demais, tudo demais sem ele. Ali fica, até perder consciência do tempo, das rotinas, de tudo aquilo que tira a liberdade ao seu corpo. Ninguém entendeu o que ali se passou. Nada estava ensaiado ou agendado. Foi um turbilhão de movimentos e sensações livres, um refúgio dos movimentos diários que os braços e pernas são obrigados a repetir todo o dia, durante muitos dias.
            O minuto chegou. A campainha toca, as mãos automaticamente pegam a mochila, as pernas dirigem-se para a porta de saída, os dedos limpam a testa e os pés abandonam a sala. O momento da liberdade acabou.
            É na liberdade de dançar com as palavras, pontos e vírgulas que surge este texto estranho. Houve certamente palavras incompreendidas que nem se quiseram dar a entender, porque a mão não quis abdicar do seu movimento livre para as explicar.

Michelle Cascais Rita

sábado, 11 de dezembro de 2010

Liberdade do duplo sentido da palavra


Como nos diz Philippe Breton “UMA ESTRANHA CARACTERÍSTICA DA PALAVRA HUMANA é a de ter duplo sentido (…) dupla direcção. Ela é dirigida ao mesmo tempo aos outros (…) e ao próprio locutor, no diálogo interior.” Esta dupla articulação da palavra permite relacionarmo-nos com o mundo exterior e com nós próprios. É neste diálogo interior que a palavra nos permite a introspecção, o relacionamento com a parte mais privada do nosso ser.
Esta liberdade de ninguém controlar os nossos pensamentos, sentimentos ou sonhos, a não ser as nossas percepções e os nossos receios, permite-nos extrair-nos de nós mesmos, separando-nos do mundo e de nós. A palavra abre-nos um espaço que permite o nosso desenvolvimento como pessoas.
Domina ainda o nosso ser social ao permitir o nosso relacionamento com o outro. Assim, somos o resultado das experiências que vivemos, dos livros que lemos, dos lugares que percorremos e sobretudo das pessoas com que nos cruzamos.
As pessoas que emergem na nossa vida de forma relevante, não é em vão, enriquecem-nos, criam um vínculo de forma invisível.
 “Tornas-te eternamente responsável por aquilo que cativas” (Saint-Exupéry).
 Levam-nos sim a atingir um nível, onde subimos degrau a degrau, permitindo-nos viver a vida na sua plenitude, fazer emergir a parte mais privada do nosso ser, por vezes não estar completamente no mundo, a atingir aquela liberdade interior que nos conduz onde o pensamento nos permite.
Transpomo-nos assim para um novo estádio da nossa vida!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Exercitando a Liberdade

John Stuart Mill escreveu, em 1859 (!): “A única liberdade que merece o nome é a liberdade de procurar o nosso próprio bem à nossa própria maneira, desde que não tentemos privar os outros do seu bem, ou colocar obstáculos aos seus esforços para o alcançar. (…) As pessoas têm mais a ganhar em deixar que cada um viva como lhe parece bem a si, do que forçando cada um a viver como parece bem aos outros.” Parece-me que este conceito de liberdade cobre aproximadamente todas as suas vicissitudes, mesmo que hoje em dia pareça apenas mais um truísmo, uma parangona lançada aos quatro ventos para fazer um brilharete com a nosso “esclarecimento intelectual”. Mesmo assim, esta frase feita, cinzelada com o escopro das ideologias no nosso “código genético” cultural, não é facilmente refutada na sua essência, e poderemos perseguir a ideia que nela se veicula como objectivo de vida, como uma meta dos nossos exercícios de liberdade.
No entanto, como bem sabemos, a sociedade tem de estabelecer padrões, construindo obrigações e deveres inevitáveis. Mas tais agrilhoamentos serão, em última instância, garantias de que a liberdade não cairá nos braços bronzeados de apenas uns poucos. A liberdade exercita-se, muscula-se, procura-se activamente, não por testes constantes aos limites físicos e de poder mas sim através daquilo que muito bem se chama “alargamento de horizontes”. Fernando Pessoa dizia: “Porque eu sou do tamanho do que vejo, e não do tamanho da minha altura.” Permitam-me (e permitam-se) que o repita hoje e todos os dias.
            A maioria das pessoas encontra-se demasiado agarrada ao mundo, como se olhassem de dentro de si próprias - do seu próprio universo - para esta vida que levamos a correr. Explico melhor: existe uma espécie de limiar, das coisas do dia-a-dia, que temos de saber superar, olhando “de cima” para a humanidade. Só assim conseguiremos relativizar os nossos problemas, e sentir um aconchego por fazermos parte de algo maior. Seremos mais descontraídos. Contudo, para atingirmos o contrário absoluto desta forma de vida teríamos de ir viver para as montanhas, saindo por completo do mundo, das inquietações quotidianas da modernidade. Acabaríamos por ser igualmente fúteis, por nada nos agarrar à terra.
            Assim, esperando que concordem comigo, proponho que a melhor maneira de aproveitarmos estes dias em que mantemos os olhos abertos será subindo ao limiar de que já falei, algures na atmosfera, de forma a tratarmos dos acasos das nossas vidas, enquanto, ao mesmo tempo, mantemos um filosófico olhar nas deslumbrantes grandezas do mundo.
            A minha sugestão é a literatura. Ler como exercício de liberdade. Podia arriscar ir mais longe nos meus conselhos, e dizer que existem livros mais libertadores que outros. Mas isso, como somos livres, fica ao critério de cada um, até porque ler por prazer, a única forma de o fazer, também dá lugar a livros menos “pesados”, no sentido de que precisamos de uns metafóricos pesos para tonificarmos os nossos bíceps cerebrais. Visitem uma biblioteca pública e sigam esta verdade insofismável: normalmente, os romances com mais fita-cola nas lombadas são os melhores.
É verdade, e decerto virão a concordar comigo se seguirem o meu conselho: ler um bom livro é uma das melhores maneiras – é de certeza a mais automática e célere – de alargar os nossos horizontes, de aprender a sentir e a pensar diferente (e que não há mal nenhum nisso, por tudo já ter sido sentido e pensado por outros antes de nós), e de ver mais daquilo que está à nossa volta. Ver mais do que aquilo que está à vista.
            Os livros de uma biblioteca são os maiores artefactos da democracia – são os depositários da liberdade (o Homem livre não está preso ao mundo) e são livres, não dependendo da economia, mas do interesse de cada um. Se a minha biblioteca pessoal já começa a reflectir aquilo que sou (em construção até ao fim e de olhos postos além do que vejo), uma biblioteca pública mostra-nos, de uma forma pungente e sincera, aquilo que somos como humanidade (eternamente em construção e de olhos postos em tudo). Façamos das bibliotecas os mais verdadeiros ginásios, onde exercitamos a nossa liberdade e alargamos o nosso mundo com todos os mundos ainda à espera de serem lidos. É apenas uma questão, como já disse, de arriscarmos ver de mais alto tudo aquilo que podemos ser.


emanuelmadalena@hotmail.com


domingo, 28 de novembro de 2010

Amizade como exercício de Liberdade



Recordo aquele Verão alucinante. Sucediam-se as festas, os amigos, a magia dos fins de tarde à beira-mar. Foram momentos de “loucura”, descontracção, partilha, de conversas intermináveis de brilho no olhar. Não há amizade sem partilha de emoções. A vida voltou a pulsar dentro de mim.
Findo o Verão ficou a nostalgia de momentos e pessoas inesquecíveis, que permanecem na nossa vida, independentemente da distância a que se encontram.
A amizade é generosidade, dar e receber, estar perto quando se está longe, é a chama que nos alimenta a alma. Do coração dos amigos vem a percepção dos nossos momentos tristes e felizes, em presença ou em espírito.
A amizade é um fluido colorido onde nos banhamos, que nos faz receber a cor do outro e faz o outro receber a nossa cor. Isto é a empatia da amizade.
No reencontro surge a sensação de que nunca estivemos longe. O Oceano podia separar-nos, mas nos momentos de saudade e nostalgia chegava sempre oportuna a mensagem, a conversa. As emoções voltam à tona, os momentos intermináveis de conversa e o brilho nos olhos reaparecem como que por magia.
A amizade é um exercício de liberdade, é incondicional, intemporal e é sobretudo o respeito pelo outro!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Liberdade

No dicionário diz que é “Direito de proceder conforme nos pareça, contando que esse direito não vá contra o direito de outrem.”, mas cada vez mais, tende para a outra definição “demasiada familiaridade”. Isto apenas porque todos pensam que a liberdade é poder fazer tudo o que nos dá na “real gana”,sem pensar nas consequências que possam acarretar para o mundo que nos rodeia…
“La liberté”, como dizem os franceses já serve para sem qualquer problema insultarmos quem quer que seja, sem ter medo das possíveis consequências desse acto…e porquê???? Porque as liberdades adquiridas na revolução de 74, o qual só conheço por livros de História, trouxeram um sentimento de “deixa andar” e de impunidade para as pessoas que desrespeitam desde os animais, às pessoas que convivem com elas…
Os Srs Drs Juízes nunca pensam em julgar ninguém por estes crimes “pequenos”, deixando os “meninos” que os cometem poder “trepar” na árvore do crime e mesmo assim sem nunca ninguém os castigar…
Mas a liberdade é mesmo isto. Deixar todos usufruir da vida que temos…mas e quando essa liberdade faz com que estes “meninos” filhos de boas famílias virem toxicodependentes, porque se forem identificados como tal, apenas são levados ao GAT e fumam mais uma “ganza “ com os Psicólogos, pagos pelo dinheiro dos contribuintes deste país LIVRE, como tentam pintar…
Estes mesmos meninos vão aumentando o apetite pelos estupefacientes e sobem de “escalão”, para drogas mais duras…pois a liberdade permite-lhes a opção pela vida que quiserem…e aí o dinheiro que recebem quer de mesadas ou de salário (os que ainda vão tendo vontade de trabalhar, ao invés de receber o famoso Rendimento Mínimo de Inserção) já não chega…então, que vamos fazer???? Utilizar mais uma vez  a “freedom”, para nos inserirmos na casa de alguém, que se levanta todos os dias para trabalhar e tentar pagar as contas…e furtar uns bens que servirão para mais uma dose…isto porquê??? Porque a minha liberdade não será posta em causa, as prisões estão cheias, e então vamos dando mais oportunidades a estes belos moços pois a “culpa” não é deles…é só nossa…porque deixamos chegar a nossa sociedade a este ponto…
Culpa também temos nós quando incutimos nos nossos sucessores que os seus professores, polícias, pessoas que antigamente temíamos, mas respeitávamos, são todos uns burros, palhaços e não têm qualquer valor. Mas se não fossem eles com as suas maneiras mais duras, por vezes demais, não seríamos respeitadores, ao invés desta nova juventude que nem respeita os mais velhos, as autoridades, os animais, a vida em sociedade, etc…ficando felizes por poderem gozar com os idosos respondendo-lhes mal em vez de serem doces com eles, serem considerados os “maiores” porque conseguiram enganar a “bófia” ou por fumarem uma “broca” e eles não lhe fazerem nada…
Há 10 - 15 anos…algo seria impensável pois se os nossos pais soubessem que respondemos aos nossos professores, ou se algum policia viesse à porta da casa deles por alguma coisa que tivéssemos feito, levávamos o suficiente para pensar duas vezes antes de o fazermos novamente. Hoje em dia, se um professor levantar a voz a um menino “mal educado”, o pai quer bater ao professor , em vez de questionar o porquê de tal atitude por parte do mesmo.
Enfim poderia dar um sem número de exemplos…mas todos nós os conhecemos.
Para terminar, as liberdades cresceram duma forma imensurável tornando as coisas descontroladas, pois quem regula as mesmas através da criação das leis, fá-lo a pensar em deixar sempre uma porta aberta para a sua própria liberdade mesmo se for culpado…
E assim se vive em Portugal…gozando com as liberdades dos outros e apregoando que somos livres!

A. Autoridade

domingo, 21 de novembro de 2010

Um Ser Livre

Conheci-o no dia em que nasci. Perdi-o no dia em que me morreu. Sabia ler sem nunca ter ido à escola e fazer música sem conhecer as notas. Mas sobretudo sabia identificar os sinais que a natureza lhe transmitia. Lia as nuvens, o vento, as estrelas e sabia sempre o que o tempo nos reservava.
Eram as noites que passava no embalo da sua bateira, com as estrelas como tecto quando a lua se acendia, que lhe ensinavam todos os sinais.
Era um homem de vida livre. Ele e a natureza viviam em perfeita harmonia. Vivia do mar e da ria e para eles.
Ensinou-me tudo e sobretudo transmitiu-me o que os seus olhos cor do mar conseguiam alcançar. As pequenas coisas da vida, os seus sonhos,  esperanças, a apreciar os pormenores da natureza, a dar valor a tudo com que ela nos brinda e do tão pouco que precisamos para ser felizes.
Era um homem de natureza livre, humilde , generoso, solidário…de um altruísmo comovente. Era uma força da natureza!
Há pouco tempo alguém me perguntou se não pensava em mim em primeiro lugar. Hesitei, mas de imediato conclui que pensava em mim em último lugar.
Que boa sensação!
Obrigado avô por tudo o que me ensinaste!

Liberdade - Acróstico



Levantar a confiança e o sonho
Idealizar tudo
Batalhar por isso
Errar, mas…
Repetir e não
Desistir
Abraçar a
Diferença
Evitar a monotonia da igualdade…

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

POVO LIVRE DE LIBRÉ

Ficamos tensos, quando pretendemos falar de liberdade. Vocábulo intimidador, afeiçoa-nos ao rosto uma circunspecção de urgência, faz-nos gosmentos, afila as ventas mais espraiadas, leva-nos a adoptar a posição de pensador à Rodin, retira em ideias o que faz sobrar em gestos esvoaçantes. Liberdade é, entre nós, um desafio à real utilidade dos nossos supostos 100.000 milhões de neurónios.

Não havendo da liberdade sequer um conceito, fazemos dela um confeito para todos os gostos e paladares. Eis por que, movidos de arroubos de patriotismo de fancaria, já lhe chamámos Santa Liberdade, montando-a a cavalo e sem cair (Hino da Maria da Fonte) ou, não abandonando a zoologia, também já a pusemos a falar pelo bico do «Passarinho preso», porque, ainda bem!, não era dodó:
                                    ……………………..
                                    Da minha sorte j’agora
                                    Queixas não torno a fazer;
                                    Antes gaiola que um tiro,
                                    Antes penar que morrer. (Bocage)

Antes, digo eu, uma arrochada à maneira do ignoto Manuel Laranjeira: «Ninguém lhe [ao povo ] ensinou os seus direitos e deveres. Ele dos direitos do Homem tem apenas a noção secular, tradicional – obedecer. Os seus direitos de cidadão livre? Mas como querem que ele os defenda, se nem sequer sabe que eles existem?[…] Deram-lhe liberdade, oh!, fartaram-no de liberdade. Tão-somente não o ensinaram a estimá-la e a defendê-la. […] Não nos iludamos. Ou nos salvamos nós, ou ninguém nos salva. […] Os messias de quadrilha, esses têm um ventre esfíngico e mais difícil de saciar que o ventre misterioso das nações vivas quando andam à caça das nações mortas para as devorar.» (O Norte, 14 de Janeiro de 1908).
E enfureceram-se os nossos egrégios avós, ao saberem do «poor, paltry slaves» com que Byron nos brindou!
Salvien de Marselha (séc. V) explica o que, para ele, esteve na origem da queda do império romano: «Para não morrerem sob a persecução pública, as camadas populares vão procurar entre os Bárbaros a humanidade dos Romanos, porque não podem suportar mais, entre os Romanos, a desumanidade dos Bárbaros. Diferem dos povos em que se refugiam; não têm nada das suas maneiras, nada da sua maneira de falar, e, se me é permitido dizê-lo, o que se diz mesmo nada do odor fétido e dos trajos bárbaros; preferem, todavia, submeter-se a esta dessemelhança de costumes a ter que sofrer, entre os Romanos, a injustiça e a crueldade. […] Agrada-lhes mais viver livres sob uma aparência de escravatura, do que como escravos sob uma aparência de liberdade.» Consta que Salvien perit ridendo – que morreu de tanto rir!
E não dá vontade de morrer a rir que os ocidentais baluartes dos direitos, liberdades e garantias mendiguem capitais junto de nações que estão-se nas tintas até para os Direitos do Homem? Ou já o Belo não está na Liberdade, e na Independência a fuga à opressão?!
            Compreenda-se por que o lendário Zêuxis (464 a.C. – 398 a. C.) também morreu de riso. Uma velha muito feia encomendou-lhe uma pintura de Afrodite. Mas com uma condição: a de ser ela o modelo do pintor!
         Costa Carvalho

sábado, 13 de novembro de 2010

A revolução sexual da geração de 60


Estávamos no início da década de 60. A pílula anticoncepcional tinha acabado de surgir provocando uma autêntica revolução nos comportamentos sexuais. O conceito de sexualidade alterou-se - o sexo pelo prazer!
Esta época efervescente de alteração de comportamentos, de irreverência, de desejo dos jovens se rebelarem aos padrões e comportamentos estabelecidos, a procura de liberdade de expressão e liberdade sexual emergiu sobretudo dos comportamentos femininos.
A inglesa Mary Quant e o francês Courrèges revolucionaram a moda e os padrões,  ao introduzirem a minssaia no vestuário feminino. Os ideais da época exigiam alterações visuais. Assim as roupas representavam um símbolo de libertação dos costumes: a minissaia, o  biquíni, os calções, as calças. Com a moda surge também o desnudamento. Esta alteração da forma de vestir das mulheres está directamente ligada ao novo papel sexual que ela vem assumir e com a sua libertação.
 As mulheres conquistavam o seu espaço e começavam também a usar roupa tradicionalmente masculina (calças, smoking). Afirmam-se cada vez mais na sociedade, começam a trabalhar, a emergir, a ganhar força, surgem com novos discursos. Começam a despontar os movimentos feministas, a luta pela igualdade de direitos, salários e poder de decisão.
Mas a década de 60 foi igualmente pródiga em movimentos sociais. A juventude rebelde estava ansiosa por chocar e mudar padrões de conduta, que se traduziu no movimento de contracultura, tendo como protagonistas os hippies, que contrariavam totalmente os valores sociais da época. Os seus ideais assentavam na paz e amor (peace and love) através do poder da flor (flower power) e na libertação da mulher (women’s lib.). Esta nova filosofia de vida traduzia-se, para além dos seus comportamentos, no seu aspecto físico, cabelos compridos, roupas coloridas e excêntricas, na música e no consumo de drogas.
A rebeldia dos anos 60 culminou em 1968 com o irromper de movimentos estudantis, que tomaram conta das ruas em diversas partes do mundo. Contestavam a sociedade, a moral, os costumes, a estética, a sexualidade, a cultura, os conflitos, as guerras.
Toda esta efervescência teve o seu auge em 1969, quando se juntaram cerca de 500 mil pessoas no maior festival de música rock de todos os tempos, o “Woodstock”, onde durante 3 dias se deu asas ao amor, sexo, drogas e música.
A Geração de 60 mudou o mundo!

Ana Paula

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Liberdade


Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.


                                            Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 6 de novembro de 2010

A Estória de Fernão Capelo Gaivota

Fernão Capelo era uma gaivota diferente das demais. Tinha um sonho...aprender a voar sem limites!
Dedicou toda a sua vida a perseguir esse sonho, e por ser diferente, não convencional e desafiar as regras da sua comunidade, foi banido.

Viveu só mas feliz. Os seus ideais fizeram-nos voar mais alto, procurar a liberdade plena e a perfeição.
E foi assim que ultrapassando progressiva e pacientemente as suas limitações, ao quebrar as correntes do seu pensamento quebrou as correntes do corpo e o seu corpo tornou-se o próprio pensamento.

O seu espírito elevou-se e chegou ao paraíso. No paraíso pensou, não devia haver limites, mas logo aprendeu que o paraíso não é um lugar nem um tempo. O paraíso é ser perfeito, e que o mais importante na vida era olhar em frente e alcançar a perfeição naquilo que mais se gosta.

Só a lei que conduz a liberdade é verdadeira e a nossa liberdade não é mais que o próprio pensamento.

Foi um dos mais belos livros que já li, um dos livros da minha vida. Inspirou os ideais de liberdade da minha adolescência e da minha vida.

Podemos subtrair-nos à ignorância, podemos encontrar-nos como criaturas excelentes, inteligentes e hábeis. Podemos ser livres! PODEMOS APRENDER A VOAR!

Ana Paula

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Liberdade, até onde?

Ao abrirmos os olhos pomos fim à nossa liberdade, pelo facto de pertencermos a um todo que não dominamos, a sociedade.
Cessam em nós os nossos pensamentos e ideias mais irreverentes e diferentes, porque sabemos que deles surgirão críticas, punições e condicionamentos que carregaremos a vida inteira.

Carregamos o fardo do que fizemos e o fardo do que escondemos dos outros (por não podermos assumi-lo). Estamos pois, presos a uma realidade que os outros nos permitem.
Ao sermos pessoas diferentes temos diferentes limites e temos, sobretudo, diferentes percepções dessas "correias" da expressão.
Enquanto um dito louco consegue ignorar as crenças e valores, os demais que o rodeiam , expressando-se com maior liberdade, vivem por outro lado confinados a quatro paredes (do hospital ou da família) sem que ninguém lhes dê ouvidos.
Outros de tal forma presos aos ideais e às normas da sociedade acabam por não viver vida alguma, senão aquela que os outros querem que viva - perdendo inclusive a liberdade de pensar e sonhar.
A nossa verdadeira liberdade traduz-se somente nos nossos pensamentos - aqueles que nos invadem e que permanecem infinitamente no nosso consciente, sem que sejam jamais verbalizados ou concretizados

C. Belém

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A liberdade e o sonho andam de mãos dadas


"Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso."

Bernardo Soares in Livro do Desassossego

domingo, 31 de outubro de 2010

Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tal naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...

Livros são papeis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa in Cancioneiro

Preâmbulo

Este blogue nasceu de uma vontade e de um desafio.
Vontade de explorar o tema Liberdade nas suas diversas vertentes, de expressão, pensamento, movimento, criação... tendo como intuito a partilha dos pensamentos que nos assolam a mente e os sons e as palavras que nos tocam a alma. O desafio foi do Professor Victor Pinto.

Convido-vos a dar asas à imaginação e à Liberdade.